sexta-feira, 5 de junho de 2009

Da Piada Ausente

Encontrei uma cédula de dois reais numa estante de biblioteca uma vez. Estava encaixada entre livros numa prateleira que reunia assuntos money related - mercados, capitais e etc e, se não me engano, era exatamente entre volumes do livro Riqueza das Nações, do Adam Smith, o filósofo maior do liberalismo, que a nota estava. Imaginei que foi proposital, dada a disposição do dinheiro, porque, dobradinho, não parecia esquecido. Pensei então estar diante de uma bizarra e deliciosa situação já previamente planejada por um indivíduo meio masoca disposto a abrir mão de dois contão só para que alguém percebesse a meia-graça - para mim, pago, graça e meia - que há nisso de encontrar grana em livros que falam de... bom, estou a me repetir.

Mas, sim, o ponto: essa é uma piada ausente. A expressão quase não é auto-explicativa. Simples, é algo que alguém fez e de gratuito rebolou aos sete ventos; maçarocou e jogou no ar. Estritamente necessário, entanto, que o autor não se faça presente quando a piada se dá. Ninguém colhe louros. É o a arte pela arte do humor. Humor maduro, que dispensa riso e gargalhada - pois que o entendimento se dá no plano ideal.

Peidar no elevador é uma piada ausente das clássicas.

Escrever "lave-me" com o dedo num carro sujo na rua já foi. É uma piada ausente morta, por assim dizer.

Dado que foi na biblioteca da faculdade o ocorrido lá do dinheiro, não deixa de me vir à cabeça a possível cena de um estudante comuna-cabeça anarco-de-chinelas barbado querendo mostrar seu desapego ao dinheiro e sua superioridade àqueles que os tem como objeto de estudo. Mas aí não vai legal. A coisa vale mais pela piada que pela crítica.

Molecagem do tipo que alguém sai perguntando ou esbravejando para que se descubra o paradeiro de um responsável ou culpado, explico, algo como "putaquepariu,quemfoi?" também se enquadra na referida nomenclatura.

Por exemplo: meu irmão, envolvido com os Ministérios e ministérios lá de sua Igreja, contou uma que aconteceu num retiro ou Acampamento de Carnaval (deus!, não sei o que leva maísculas ou não), que exponho com recursos concretistas para que se melhor dimensione a cômico-tragicidade do fato:







cagaram num prato.







E isso já é um bocado espantoso por si só. Mas há ainda a sutileza. O tema do acampamento, slogan, nome, algo que o valha, era "Banquete com o Senhor". Caaara, essa tem um quê de genial, porque não se sabe se realmente existiu uma intencional correlação. Só que, de novo, há de se desprezar a possível crítica, vale só a piada. Anônima, sempre.

Tem uma que se deu com um amigo que em outros tempos atendeu pela alcunha de "hugbear": desenharam com fita isolante preta um puta caralhão na porta do quarto dele. Coisa fina, usaram de um estilete pra desfiar os pedacinhos menores que fariam as vezes de pentelhos. Ficou terrivelmente bem feito. Ele, em vã tentativa de não se ver vítima da piada, fingiu que não entendeu. Mas riu. Ah, mas riu o Serjão.

3 comentários:

  1. será q foram os mestres da piada ausente q botaram aqueles cartazes na unicamp "procura-se hugbear?"

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  2. Piada ausente são anúncios de "vende-se maquina digital modelo X" ao lado de "perdi maquina digital modelo X"?

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  3. Cruel essa do "vende-se / perdi".

    Também da unicamp, me contaram de um cara que, apesar de haver vaga entre os carros estacionados em fileira ao lado da calçada, resolveu parar totalmente em cima dela, exatamente no espaço ao lado da vaga. Isso pra pegar a sombra da árvore, que não chegava ao asfalto. Charmoso, o rapaz, não? O carro foi rebocado.

    Piada ausente às vezes exige um certo auto-sacrifício. O cara perde o carro, mas não perde a piada.

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