quarta-feira, 25 de março de 2009

Preâmbulo às instruções para postar num blog

Saudações, beneméritos comparsas.


Venho aqui hoje manifestar minha curiosidade diante do fato que é a reles participação vossa neste blog. À luz dessa condição, irei propor um "manual de instruções" para postagem, tão logo quanto puder, adequado tanto para os tímidos como para os preguiçosos ou os atarefados; e bem como para os oportunistas. Minha iniciativa, entretanto, não é inédita. Datando de 1962, o livro "Historias de Cronopios e Famas", de Julio Cortazar, explora o estilo do realismo fantástico, em uma série contos curtos intitulada "Manual de Instruções", onde são apresentadas instruções de como sentir medo, cantar, chorar e de como subir escadas. "Sempre com um humor leve, porém critico, o escritor argentino Júlio Cortazar, mostra que é possivel abrir a visão de mundo, questionar o porquê de sempre fazermos determinadas coisas que, de tão arraigadas, fazemos sem pensar." ¹



Clique aqui para baixar, em português, o livro "Historias de Cronopios e Famas"



Abaixo, um trecho de "Manual de Instruções":


"Preâmbulo às instruções para dar corda no relógio

Pense nisto: quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar. Não dão somente o relógio, muitas felicidades e esperamos que dure porque é de boa marca, suíço com âncora de rubis; não dão de presente somente esse miúdo quebra-pedras que você atará ao pulso e levará a passear. Dão a você — eles não sabem, o terrível é que não sabem — dão a você um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso. Dão a necessidade de dar corda todos os dias, a obrigação de dar-lhe corda para que continue sendo um relógio; dão a obsessão de olhar a hora certa nas vitrines das joalherias, na notícia do rádio, no serviço telefônico. Dão o medo de perdê-lo, de que seja roubado, de que possa cair no chão e se quebrar. Dão sua marca e a certeza de que é uma marca melhor do que as outras, dão o costume de comparar seu relógio aos outros relógios. Não dão um relógio, o presente é você, é a você que oferecem para o aniversário do relógio."



Então é isso aí. Eu vou, mas eu volto ja-já.


PS:
[1] - mais sobre julio Cortazar: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=54

Um comentário:

  1. Fascinante a parada aí. Estou a imprimir aos poucos minha cópia não autorizada.

    Lá na livraria tinha um exemplar, fui dar a dica pro gerente, o fela roubou de mim. Escondeu e comprou.

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